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Quando a cinefilia causa incómodo

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Confesso, como cinéfila amadora, que um dos maiores prazeres de quem padece deste mal é gostar de fazê-lo (ver filmes), normalmente e no auge da sua excentricidade, completamente sozinho. Sim, sozinho!
Mais ainda, não se contentando com os infindáveis canais de cinema, netflix e afins e com as pipocas de supermercado (boas mas não excelentes), cinéfilo que é cinéfilo também gosta de ir ao cinema e normalmente, aqui é que a porca torce o rabo, também sozinho. Sim, estou a falar-vos daquele bizarro prazer de andar completamente sozinho no meio da multidão, mas elevado ao expoente máximo, ao assumir essa posição confortavelmente sentado numa sala de cinema, em dia e horário nobre, na fila de trás e no meio, entre dois casais, reza a história.

Normalmente, se nunca passaram por isto, existem em média 3 momentos constrangedores (podem ser mais) dos quais vos quero alertar se quiserem começar a praticar esta coisa da cinefilia.

Momento 1: A compra do bilhete

Este seria o momento mais natural de todos se a menina que está a vendar os bilhetes não voltasse a repetir as palavras “Só um 1 bilhete?” em tom enfático e olhar inquisidor, ao ponto de chamar a atenção para o assunto do grupo de pessoas que está atrás na fila. Aqui até me podem acusar de estar com a mania da perseguição, mas não me lembro nunca de ter ouvido um “Só 2 bilhetes?” parecido com isto. Temos sempre, claro, a opção da compra online, mas também vos posso dizer que, no que me toca, os surtos de cinefilia raramente são premeditados, portanto para mim não é opção.

Momento 2: Depois de chegar ao lugar e sentar-me

Uma vez mais, um momento que deveria ser completamente natural, mas que não é porque efectivamente (juro que é verdade) as pessoas olham bastante, com a curiosidade expectante de “hum… deve vir mais alguém.”, “hmm… não. Chegaram estes dois e ocuparam os lugares do lado.”, “hmm… parece que não se conhecem.”, “hmm.. acho que está mesmo sozinha!”. Tudo especulação minha, verdade, mas algo que não teria tempo para fazer se não me estivesse a sentir realmente observada, mesmo na penumbra ambiente da sala. A sorte é que isto só dura até ao começo dos trailers. Sejam firmes e prometo que passa num instante!

Momento 3: O intervalo

Sozinho ou acompanhado, este nunca irá ser um momento natural! Porquê, mas porquê, que depois de tantos anos de ouro em que os intervalos nos filmes foram abolidos, voltaram a praticar este sacrilégio nas salas de cinema? (Este é também o momento em que o casal ao lado relembra a minha existência solitária “hmmm… esta está mesmo aqui sozinha.” e eu volto a especular sobre isso, porque volto a sentir-me observada.)
Além do mais, esta é a altura ou do silêncio constrangedor ou da conversa de circunstância parva. Telemóveis salvadores, venham eles! Façamos scroll compulsivo nas nossas redes sociais até este pesadelo terminar! Rápido. Recomecem o filme, antes que eu me esqueça da última cena pela qual estava completamente absorvida e agora, de repente, estou aqui como que metida à força nesta gigantesca sala de espera, sem televisão e sem revistas.


Para rematar o tema, os conselhos valiosos que vos posso dar: além de serem firmes e convictos da vossa “condição”, optem talvez por um horário mais adaptado à situação, por exemplo sábado à tarde (já testei isto e é sem dúvida mais cinéfilo friendly). Se, por outro lado, continuarem a preferir um horário de sábado ou sexta à noite, evitem escolher um lugar muito central, pois a probabilidade de ficarem sentados entre casais, inclusive em fase já não tão apaixonada, é elevada, o que pode alimentar seriamente o vosso grau de especulação quando se sentirem fortemente observados.
Se gostam de sair da vossa zona de conforto e, à excepção do filme que vão ver e do ponto de caramelo das pipocas, tudo vos passa completamente ao lado, considerem este texto um momento lúdico do vosso dia e façam como eu, que certamente irei ignorar estas “regras” quando for ver o La La Land no próximo sábado à noite!

Bons filmes!

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